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A DIVINA REVELAÇÃO E A “FASE DOS POR QUÊS”

  • Foto do escritor: Alan Dionizio Carneiro
    Alan Dionizio Carneiro
  • 2 de dez. de 2016
  • 5 min de leitura

“A erva seca e a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is 40,8).

A Bíblia é conhecida por vários nomes como: a Palavra de Deus, Sagrada Escritura, A Lei e os Profetas, A Lei, Livro Sagrado, as Sagradas Letras e, dentre tantos, um que é mais oportuno para iniciar o diálogo sobre este livro: A Divina Revelação.

Mas por que esse título merece destaque afinal? Divina Revelação é uma expressão que trata de um descobrir, descortinar algo sobre Deus ou de Deus para o homem. À propósito, revelar significa tirar o véu, tornar visível, dar-se a conhecer. Agora, sendo a bíblia, um livro para os homens e não para Deus, pode-se afirmar que este livro “revela” modos, maneiras e formas de ver, conhecer e experimentar a Deus.

E por que o homem precisa de um Deus? Será que as palavras do salmista fazem sentido?


Sl 42, 2ss: Como a corça anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? Minhas lágrimas se converteram em alimento dia e noite, enquanto me repetem sem cessar: Teu Deus, onde está?


Bem, as psicoterapias propostas por Carl Jung e Viktor Frankl identificam que toda personalidade humana precisa de um deus, de um absoluto com o qual possui uma relação seja através de um deus pessoal, científico ou através de um panteísmo (deus diluído no universo/natureza) ou uma “filosofia de vida”. Esse deus necessário à psicologia humana não só nos olha – logo também nos julga –, como é capaz de oferecer e participar do sentido último que damos à nossa vida. Ele me oferece algo pelo qual me vale à pena lutar e acreditar, além de me direcionar para os valores que devo buscar. Exemplo: Felicidade. Bondade. Justiça. Reino de Deus e das Bem Aventuranças.


Contudo, isto apenas demonstra o que o salmista afirmou, qual seja, que sua alma tem sede, desejo por conhecer a Deus e o busca. Ao mesmo tempo, o salmista revela que seu coração está inquieto até que repouse em Deus, como diz St. Agostinho. A história também mostra que o homem buscou deus de várias formas a fim de saciar sua inquietude. Qual, então, a novidade da Divina Revelação? Para não esquecer o por quê?


Esta resposta é dada pela Encíclica Dogmática Dei Verbum (Verbo de Deus): “Pela Revelação Divina quis Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de sua vontade acerca da salvação dos homens, a saber, para fazer participar dos bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da mente humana”. (Dei Verbum).


A novidade é que a Divina Revelação é uma iniciativa de Deus. Deus que é comunicação perfeita quis dialogar com o homem. Então o mundo não é uma casinha de bonecas ou um aquário que Deus fica olhando de fora. Não. O mundo é lugar em que Deus quer encontrar o homem primeiro e ajudá-lo em sua caminhada. Antes mesmo de o homem desejar a Deus, Ele, em sua iniciativa incessante já queria se manifestar ao homem. Por quê? Porque Deus nos amou primeiro! (Cf.: Jo 4,19).


Afirmar que Deus é um comunicador por excelência, é entender que Deus se fez Palavra. Não qualquer palavra, mas uma palavra eficaz, produtiva e realizadora.


Jo 1,1: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.

Gn 1,3: Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita.


Nesse contexto, imaginemos um mundo cuja literatura tivesse sido toda destruída, quase um mundo do filme “O Livro de Eli”, em que não houvesse mais bíblias, Deus desapareceria porque as pessoas não seriam mais capazes de ler a Bíblia? Resposta: Não. Por quê? Porque Deus nunca para de se comunicar e isto não é apenas seu desejo, é sua iniciativa e sua ação.

Assim, a Palavra de Deus não volta jamais de mãos vazias. Sua Palavra comunica, cria e anuncia realidades e mundos, emociona, conforta, corrige, destrói, edifica, cria laços e penetra em nosso coração.


Para poder compreender como a Palavra de Deus faz isso, é preciso entender como Deus se revela. Neste sentido, Deus se revela (comunica-se conosco) através da natureza, dos acontecimentos e do próprio homem. Na natureza, Deus se revela como nosso Pai e provedor que tudo criou e nos entregou para governar (cf.: Gn 1, 28-30); nos acontecimentos, Deus se revela como amigo fiel e companheiro de viagem, sempre pronto a nos animar, mesmo quando a viagem não é prazerosa (cf.: Mt 11, 28-30); no próprio homem, Deus se revela como imagem e como meta (Lv 19,2: “Sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”).


- Então porque temos a Bíblia, um amigo imaginário perguntaria? Já sei, diria ele: A Bíblia é feita de papel (natureza). Responderia eu: Não! Também acrescentaria alguns adjetivos como ignorante, mas não vem ao caso.


Entretanto, de fato, por que temos a Bíblia, a Divina Revelação?


Bíblia vem de biblos, palavra grega a qual também origina em português ‘biblioteca’, e refere-se a livros, o que significa dizer que a Bíblia é um conjunto organizado de livros e como todo livro, conta uma história ou várias histórias de um povo em sua cultura. Dessa maneira, a Divina Revelação nem sempre teve 73 livros (46 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento) escritos em aproximadamente 1600 anos. Ela foi sendo ampliada à medida que Deus falava e o povo vivia sua história.


E por que Deus não disse tudo de uma vez e poupou tempo?

Resposta: Jo 16, 12: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora.”.

Não somos capazes de silenciar um minuto para ouvir o outro falar, ou mesmo para meditar a Palavra de Deus. Imagine ouvir tudo que Deus tem para dizer!? Como assim? Ninguém aprende a amar em um dia? É preciso perseverança, empenho e paciência. É por isso que Deus se revela progressivamente em nossas vidas.


A Bíblia, portanto, é um projeto para o homem descobrir o Amor, compreender que é profundamente amado e aprender a Amar perfeitamente. E como, quem conhece a Deus, nunca permanecerá o mesmo, pois Deus é amor. À medida que as pessoas foram vivenciando suas experiências de Amor com Deus, em que Deus lhes fazia arder o coração (cf.: Lc 24,32), os homens foram narrando essas experiências conforme as palavras lhes saltavam do coração e que nem sempre seguiu a lógica da razão ou a ordem direta das palavras.


É por isso, que nos Livros da Bíblia, podemos encontrar muitas formas de escritas literárias: Narrações, narrações fantásticas, fábulas, profecias, parábolas, sermões, poesias, cantos etc. Até mesmo, muitos fatos históricos são encontrados na Bíblia, mas a Bíblia nunca se propôs a ser um livro de História, nem de ciência. A sua verdade não consiste na razão, mas no Amor; seus acontecimentos não querem revelar fatos históricos, mas a Comunicação de Deus e a Experiência do Povo.


A Bíblia continua sendo escrita todos os dias, mas não mais em papel e sim, no nosso coração e no coração da Igreja. Quem prova este amor de Deus revelado, é como o profeta João Batista, que não deseja guardar tal experiência só para si, mas que fazê-la ganhar o mundo mesmo que o mundo, por muitas vezes não queira escutar, assim,

ele diz: Jo 1, 23: “Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3)”. A esta escrita, chamamos de Tradição da Igreja ou Apostólica.

Um abraço fraterno,

Alan Dionizio

(catequista leigo católico)

Referências:

ANTONIAZZI, A.; BROSHUIS, I. PULGA, R. ABC da Bíblia. 30 ed. Minas Gerais: Centro bíblico de Belo Horizonte.

GILBERT, Pierre. Como a bíblia foi escrita: Introdução ao antigo e novo testamento. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2000.

GRÜN, Anselm. A fé dos cristãos. São Paulo: Vozes, 2009.

PAULO VI, Papa. Constituição dogmática Dei Verbum: sobre a revelação divina. Disponível em <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/>. Acesso em: 03 nov. 2005.

SCHLAEPFER, C.F.; OROFINO, F.R.; MAZZAROLO, I. A bíblia: introdução historiográfica e literária. 2ed. São Paulo: Vozes, 2005.

VATICANO. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.


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