A Virgem Maria, Flor Do Alto (parte 02)
- Alan Dionizio (catequista leigo católico)
- 8 de dez. de 2016
- 5 min de leitura
Segundo Fr. Clodovis Boff, A virgindade de Maria recorda cinco caminhos possíveis pelos quais se compreender esta verdade: 1. Mulher, senhora de si; 2. Mulher disponível e geradora de nova vida; 3. Mulher, modelo de fidelidade; 4. Símbolo da natureza inviolada; 5. Modelo da comunhão com Deus.
3. Mulher, modelo de fidelidade (Virgo Fidelis)
A virgindade de Maria representa uma fé íntegra e pessoal a Deus, uma exigência para cada cristão: ser disponível para Deus e confiar nEle. Por isso, sua virgindade se torna um sinal de fidelidade; fidelidade esta que não é exclusiva de Maria, mas é uma prerrogativa, um critério para toda a Igreja de Deus.
Como a Igreja pode ser modelo de fidelidade (virgindade)? Ouvindo a Palavra de Deus, guardando-a integramente em seu Coração e as pondo em prática. Vejamos o texto do Ap 14, 4s: “Estes são os que não se contaminaram com mulheres, pois são virgens. São eles que acompanham o Cordeiro por onde quer que vá; foram resgatados dentre os homens, como primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Em sua boca não se achou mentira, pois são irrepreensíveis.”.
Ser virgem é ser íntegro, no sentido de ser justo e ético.

4. Símbolo da natureza inviolada
Essa marca, isto é, a compreensão de que a virgindade de Maria tem algo a dizer aos ecologistas foi destacada belissimamente pelo nosso Papa São João Paulo II. O santo João Paulo II encontra um elemento virginal na criação: como Maria, criada pelas mãos virginais do Criador, parindo virgem Jesus, o qual ressuscitou virginalmente, isto é, incorruptível do sepulcro, também Maria é a virgem inviolada, no corpo, na alma e no coração.
Como a essência virginal (a pureza) perpassa toda a criação, a verdade virginal em Maria revela que a natureza não pode ser violentada, nem destruída pela cobiça e o poder corrupto do homem.
5. Modelo da comunhão com Deus
A virgindade de Maria é ainda uma referência, uma nova proposta de sentido para a virgindade que se faz presente desde o Antigo Testamento: a virgindade como sinal de união íntima com Deus, isto é, comunhão.
Na tradição hebraica estão presentes vários eventos sagrados em que a abstinência sexual é sinônimo desta comunhão com Deus, como por exemplo: o encontro com Deus no Sinai (Ex 19, 14s); Guerra Santa (Dt 23, 10-15; 1 Sm 11, 8-13; 21,5); Serviço Sacerdotal no Templo (Lv 8, 33ss; 22,3).
Não podemos esquecer que São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios quis enaltecer a virgindade ou a abstinência sexual como uma forma de consagrar o corpo para Deus, ou integrar o corpo na oração para Deus, tornando o nosso corpo um culto bom e agradável a Deus: “Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor (1 Cor 7, 32)”.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Fr. Clodovis Boff destaca que em Maria podemos perceber que “a virgindade é um protesto contra uma cultura sexista, que reduz a sexualidade à genitalidade e a usa até a banalização” (p. 492).
A virgindade de Maria além de todo significado relacionado à pureza e integridade humana que revelam acima de tudo que Deus não quer apenas uma alma, um coração ou um corpo. Ele nos quer por inteiros e não aceita menos do que isso. Porém tudo que toca, Deus transforma, sendo capaz de mudar uma natureza estéril, improdutiva, através de um pequeno ato de seu amor, em um manancial de água viva, em uma graça plena (gratia plena).
Além disso, assumir a virgindade como uma opção de entrega para Deus, não é só um exemplo de coragem para o mundo, é também, fazer de toda a vida e de todo o corpo uma oração para Deus. Mas é preciso assumir a condição de virgem como uma opção autônoma e pessoal e, mesmo correndo o risco de ser ridicularizado na sociedade, não vivê-la como um fardo ou uma obrigação. O maior desafio da virgindade não está no corpo, mas no pensamento e no coração humanos.
6. Uma breve reflexão
Compreenda com calma. Em que a virgindade, enquanto elemento da natureza humana, de ser humano nos muda? Em nada. Para a sobrevivência, ela é totalmente dispensável. Entretanto, somos capazes de dar significado e sentido às coisas. Deus não é mais Deus por conta da virgindade/castidade de alguém. Deus não precisa desse sinal.
Mas um cristão deseja Deus, quer estar unido a Ele. E num mundo que não entende essa entrega e felicidade em ser virgem, fica confuso, zomba, tripudia sobre a pessoa que deseja viver a virgindade como valor. A pessoa, então, é provada todos os dias, na carne (na sensibilidade e nos desejos/paixões), na convivência com os outros que a ridicularizam. Tudo isto a faz pensar, quase como uma flecha que deseja alcançar a sua alma, desprezando seu mais visível sinal de intimidade e entrega com seu verdadeiro Amado, Deus. Ela, então, pode ficar triste, desistir e, até mesmo, correr o risco de achando tudo isto em vão, perder sua vocação.
Por isso, a virgindade quando vivida a partir de dentro, da intimidade do coração, significa castidade. Embora, virgindade e castidade não sejam sinônimos. Os esposos sabem todos os passos para terem filhos e, mesmo assim, vivem a castidade. Privar-se de uma relação sexual, permanecer virgem no corpo, é mais fácil do que dar valor e sentido à virgindade, e saber conviver com esta decisão.
A virgindade de Maria tem uma ambivalência: Enquanto graça, é dom de Deus, mas enquanto fidelidade, é decisão livre e pessoal de Maria. Não diz respeito aos outros, ainda que sirva de sinal para o mundo.
Portanto,a virgindade de maria mesmo no nascimento, é uma delicadeza divina que respeita não a natureza humana, mas a autonomia e disponibilidade dessa mulher. Como Cristo se refere a Maria nas bodas de Caná quando interpelado por ela?
Ele não a humilha, antes recorda uma dignidade de Maria anterior na história a ser a mãe de Jesus. Ela é mulher. E foi como mulher que se submeteu a Deus. Por isso, ela não antecipa, não determina a hora de Deus agir. Sua função é apresentar e confiar.
Maria não é como uma simples incubadora de Jesus, cuja única função é colocar um bebê no mundo. Ela é mulher, uma pessoa que tem vontade, razão e capacidade para decidir os rumos de sua própria vida. Por isso, seu sim é importante. Para que ela decida se deseja trazer Cristo ao mundo e viver unida a Ele para todo o sempre.
Se víssemos a beleza da pureza de coração que a virgindade de Maria suscita, estimula em nós, mais facilmente veríamos a Deus..., e seríamos capazes de produzir maiores frutos, pois mais facilmente o rio da graça corre num ser humano mais límpido.
Ave Maria, Gratia Plena, Dominus Tecum... “ És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada. És a fonte de meu jardim, uma fonte de água viva, um riacho que corre do Líbano. (Ct 4, 12.15).
Referência:
BOFF, Fr. Clodovis. Mariologia Social: o significado da Virgem para a Sociedade. São Paulo: Paulus, 2009.
MONTFORT, São Luís Maria Grinion de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. São Paulo: Vozes, 2008.
SÃO JERÔNIMO. Catequese: A virgindade perpétua de Maria. Disponível em: <http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=772> Acesso em 15 de jan 2003.
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