Nossa Senhora, Porta do Céu (parte 02)
- Alan Dionizio (catequista leigo católico)
- 8 de dez. de 2016
- 5 min de leitura

II. Salve Rainha
Atentos à compreensão pela fé de que Maria foi assunta ao céu, resta-nos entender, se possível for, o que Maria faz no céu.
Maria age, intercede e louva.
João Paulo II ensinava em suas catequeses que a Assunção de Maria tinha muito a ver com os eventos de Maria da Anunciação e da Visitação à Isabel que poderíamos sintetizar na graça perene, intermitente do Espírito Santo em Maria e na sua fé diligente, isto é, evangelizadora, capaz de levar a plenitude da Boa Nova onde for.
Contudo, resta ainda outro evento destacado pelo beato pontífice que relaciona-se à assunção de Maria, qual seja, a Coroação dela como Rainha do céu e da terra.
“A filha do rei é toda esplendor” (Sl 44, 14)
“Resplandece a rainha, Senhor, à Tua direita” (Refrão do Salmo responsorial da Assunção)
Maria não é elevada ao céu apenas como uma recompensa como quem goza um privilégio, a exemplo de umas férias, a fim de descansar. Não. Maria não deixa de estar envolvida na história da Igreja e da Salvação que é a história da luta entre o bem e o mal.
De modo que a liturgia da Assunção faz alusão ao texto de Ap 12,1.2 no qual “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz”. São João ainda destaca um outro sinal que vai ao confronto com a mulher que é um dragão vermelho (Ap 12,3).
Esse dragão é conhecido como inimigo da mulher desde Gn 3,14. Como recordava João Paulo II, a tradição e devoção popular ao meditarem este texto que não fala explicitamente de Maria,remetem-se de pronto e espontaneamente para a noite de Belém, para a ameaça do édito de Heródes (Mt 2,16). Embora o texto se refira à Igreja, esta mesma é melhor figurada, representada pela pessoa de Maria que como diz Sto. Agostinho, Maria é menor que a Igreja que é um Todo, mas é nela seu membro mais excelso, mais perfeito.
Maria, na glória do Céu, continua a fazer permanente inimizade com o Maligno e sua descendência. Tal fato nos leva às palavras de S. Luís Maria Montfort sobre a autoridade régia de Maria:
“No céu, Maria dá ordens aos anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar sua profunda humildade, Deus lhe deu o poder e a missão de povoar de santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exulta os humildes (Lc 1,52), é que o céu, a terra e o inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria, pois ele a fez soberana do céu e da terra, general de seus exércitos, tesoureira de suas riquezas, dispensadora de suas graças, artífice de suas grandes maravilhas, reparadora do gênero humano, mediadora para os homens, exterminadora dos inimigos de Deus e a fiel companheira de suas grandezas e de seus triunfos.” (S. Luís Maria Montfort, p.34).
Não é difícil compreender que Maria se insere de maneira sublime na comunhão dos santos e intercede por nós junto a seu Filho, mediando todas as graças.
Convém lembrar que em 2 Mc 15,14, o povo pedia a Jeremias, falecido há séculos, que intercedesse pelo seu povo; Moisés e Samuel são apresentados ao povo como grandes intercessores em Jr 15,1; assim como Abraão e Davi ( Dn 3,35; Sl 132,1). Sendo a compreensão da comunhão e intercessão dos santos tão antiga na tradição, não poderia Maria, Mãe de Deus, Rainha dos Ceús, esquivar-se de tal tarefa evangelizadora: na Glória, levar e elevar seu Filho Jesus no mundo.
Pautando-se no texto de Ap 12, relacionado à virgem resplandecente sob a Lua, o Fr. Cantalamessa nos diz:
“A lua ilumina durante a noite, quando o sol se põe e antes que apareça novamente; também Maria frequentemente ilumina, se a ela recorrem, aqueles que atravessam a noite da fé e da provação, ou vivem nas trevas do pecado. Quando de manhã o sol levanta, a lua não pretende certamente competir com ele; assim, quando Cristo chega a uma alma e a visita com sua presença, Maria se coloca de lado e diz como João Batista: Essa é a minha alegria, que agora é completa: ele deve crescer e eu diminuir (Jo 3, 29s).” (CANTALAMESSA, 2008, p.192).
Deste modo, convém lembrar que a Carta que proclama o Dogma da Assunção de nossa Senhora evita dizer que Maria subiu ao céu, destacando apenas que ela foi elevada em corpo e alma à Glória celeste, a fim de não estabelecer o céu como um lugar, e em reforçar a mudança de estado de Maria devido à Ressurreição e à Glória.
Talvez, S. Luís Maria Montfort explique melhor e de forma mais suave:
“Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: ‘O reino de Deus está no meio de vós’ (Lc 17,21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem [...], e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações.” (S. Luís Maria Montfort, p.42).

Se recordarmos o Batismo Cristão e de que por tal sacramento, nos tornamos sacerdotes, profetas e reis, vale lembrar que é fácil perceber como Maria melhor elevou em vida terrestre e gloriosa seu “batismo” pelo Espírito Santo, honrando e dignificando este sacramento que nos impulsiona para sermos o povo santo de Deus.
Em resumo, podemos afirmar que:
“Maria representa a antecipação da redenção total. A salvação por Maria é a de toda a Igreja e de todo homem, mas existe e se encontra manifestada nela em toda a sua plenitude. Maria já se encontra na escatologia plenamente realizada nela, ela é a antecipação da consumação final. Ela institui a comunidade corporal de todos os resgatados. De um modo insigne e único, Maria realiza o destino da Igreja, da qual ela é, ao mesmo tempo, modelo e membro perfeito”. (SESBOÜÉ, BOURGEOIS, TIHON, 2005, p.505).
Mas o que nos ensina o dogma da Assunção para nós cristãos, hoje?
Para isto, vejamos o post 03.
Referência:
Encíclica Munificentissimus Deus do Papa Pio XII. Dispõe sobre a Constituição Apostólica pela qual foi Definido o Dogma de Nossa Senhora, em Corpo e Alma ao Céu. 01 nov 1950.
Encíclica Redemptoris Mater do Papa João Paulo II. Dispõe sobre a Bem Aventurada Virgem Maria na Vida da Igreja que está a Caminho. 25 mar 1987.
Encíclica Rosarium Virginis Mariae do Papa João Paulo II. 16 out 2002.
BOFF, Fr. Clodovis. Maria no Novo Testamento. In.: Congresso Mariano: “Contemplar Cristo com os Olhos de Maria”. João Pessoa: Arquidiocese da Paraíba, 2003.
BOFF, Fr. Clodovis. Mariologia Social: o significado da Virgem para a Sociedade. São Paulo: Paulus, 2009.
BOFF, Ir. Lina. Mariologia: interpelações para a vida e para a fé. São Paulo: Paulus, 2007.
CANTALAMESSA, Raniero. Maria: um espelho para a Igreja. São Paulo: Santuário, 2008.
KRIEGER, Dom Murilo S.R. Com Maria, a Mãe de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2002.
LIGÓRIO, Santo Afonso. Glórias de Maria. São Paulo: Santuário, 2001.
MONTFORT, São Luís Maria Grinion de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. São Paulo: Vozes, 2008.
SÉSBOÜÉ, B.; BOURGEOIS, H.; TIHON, P. Os sinais de salvação. v.03. São Paulo: Loyola, 2005.
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