Virgindade Perpétua de Maria (parte 03)
- Alan Dionizio (catequista leigo católico)
- 8 de dez. de 2016
- 6 min de leitura
A tradição, a partir de Sto. Agostinho, ensina numa frase tudo que aqui tentaremos debater:

“A Virgem foi virgem antes, durante e depois do parto.”
FUNDAMENTOS BÍBLICOS E DA TRADIÇÃO SOBRE a virgindade de Maria
3. A Virgem foi virgem DURANTE o parto
A tradição da Igreja, através de seus santos e santas, esforça-se por explicar este mistério: como pode uma mulher dar à luz um filho e permanecer virgem? Para a razão, é como querer colocar um quadrado dentro de um círculo e conseguir vedar completamente o círculo.
Bem, para isto, a tradição, sem ferir os preceitos bíblicos nos recorda:
1º tudo que Cristo proporcionará ao homem, Maria é a primeira a vivenciar. Chamamos isto de primícias. Por exemplo: Maria foi a primeira pessoa a quem Cristo se revelou e amou.
2º Cristo nos deu vários sinais de sua ressurreição e de que a morte para nós não seria o fim. Assim Cristo, em vida, mostrou as primícias de sua glória. Por exemplo, a Transfiguração de Jesus no Monte Tabor. Lá Jesus se mostra glorioso, tal qual os discípulos o vêem no domingo da páscoa de Jesus.
3º Jesus Glorioso, Ressuscitado, aparecia nos ambientes fechados, ultrapassava paredes, percorria longas distâncias em pouco tempo (Cf.: Jo 20,19).
A fim de preservar a integridade daquela que se manteve íntegra para Nosso Senhor, o nascimento de Jesus antecipa seu sinal glorioso, e passa por Maria sem ferir sua virgindade corporal e cumprir sua promessa. Como assim, cumprir sua promessa?
Ocorre que, no Antigo Testamento, o presente material maior que os judeus receberam como sinal de Deus fora as Tábuas da Lei (Os Dez Mandamentos). Nas inúmeras guerras, essa relíquia foi usurpada e perdeu-se na história. A arca que continha, conduzia e guardava estas tábuas chamava-se a Arca da Aliança com Deus. No início do Novo Testamento, é Maria a nova Arca da Aliança, o Templo perfeito do Senhor.
Deste modo, se no livro de Ezequiel, Deus que ao adentrar, preenche todo o templo com sua presença de modo a ninguém conseguir mais entrar no templo, afirma: “O Senhor disse-me: Este pórtico ficará fechado. Ninguém o abrirá, ninguém aí passará, porque o Senhor, Deus de Israel, aí passou; ele permanecerá fechado.”
De modo análogo Deus mantém a integridade virginal de Maria durante o parto.
Com isto, Jesus satisfez em tudo Maria: Este filho trouxe toda a alegria da mulher Maria, tornou-a mãe por excelência: Ele deu trabalho e cresceu na fé com ela. Jesus bastou à Maria, não sendo mais filhos para honrar sua natureza de mulher ou sua felicidade de mãe. Jesus foi a única pedra preciosa de Maria!
3.1. As dores do Parto
Um questionamento inquietante parece ser sobre as condições do parto de Maria o que deve ser refletido com cuidado e prudência, pois é possível deturpar tanto o caráter místico e de mistério sagrado que envolve o nascimento de Jesus, como uma diminuição do significado da naturalidade do parto e da maternidade. Assim, a Igreja procura não enfatizar a virgindade durante o parto ou mesmo as circunstâncias especiais da parturição como a ausência de dores.
Para tanto, a síntese da catequese sobre as dores do parto devem ser orientadas conforme a Oração de N.Sª. do Bom Parto, em suas palavras iniciais:
“Ò Maria Santíssima, vós, por um privilégio especial de Deus, não sofrestes as dores do parto, mas, sem dúvida, compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das mães que esperam um filho, das que o carregam durante a gravidez e das que, por diferentes motivos, aguardam angustiadas a hora do parto. Olhai para mim, vossa serva, que na aproximação do parto, sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso filho, Jesus, traçou para todos os homens: o caminho do bem, do amor, da justiça e da paz”.
As tradições judaica e cristã, ambas, acreditam que a vinda do messias seria marcada por um parto sem dor, uma vez que o sofrimento do parto recordaria a mácula da falta do pecado original e, por conseguinte, o padecimento lançado sobre a mulher, presente em Gn 3, 16: “Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.”
Nesse sentido, os manuais de catequese visualizam o cumprimento da tradição a partir, em especial, de Jo 1,12: “Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.”.
Com isto quer destacar-se três aspectos do nascimento de Jesus: 1. Seu nascimento é divino, isto é, deve sua origem e essência em Deus, porquanto pode ser compreendido como um milagre e uma narração fantástica. 2. O cumprimento de uma profecia e a nulidade (tornado sem efeito) da mácula primeira do pecado original. 3. O resguardo da integridade física da virgindade de Maria.
Mas a tradição não quer dizer que um parto isento de dor seja o mesmo que um truque de mágica em que a criança estava ora no ventre faz-se surgir nos braços de sua mãe. Além disso, não se deve cair em espiritualismos, exaltando-se a divindade de Jesus e esquecendo-se de sua humanidade, posto que as duas realidades são indissociáveis em Jesus (verdadeiro Deus e verdadeiro homem); nem tampouco deve-se achar que o parto de Maria foi em tudo poupado de dificuldades, basta recordar sua viagem para o Nazaré e seu parto numa estrebaria (Lc 1).
Assim, temos de pensar que mesmo imerso em tantos sinais, o parto de Maria foi ao mesmo tempo pleno em sua normalidade/naturalidade.
É por esta razão que a Igreja não se delonga em explicações sobre as circunstâncias do parto, para que fique claro que são no cotidiano das dificuldades humanas que Deus faz aos nossos olhos seus milagres.
É oportuno destacar a compreensão do saudoso D. Estevão Bittencourt sobre o que nos revelam também as dores do parto, de modo que a Sagrada Escritura recorre à imagem dessas dores para significar a instauração do Reino de Deus, - [Isto é o reino em que Deus é Senhor de Tudo, nada o limita, tudo está a ele subordinado e ordenado] -, (Mt 24,8; 1Ts 5,3; Rm 8,22.; Ap 12,1-17).
“A vida cristã é ambígua, paradoxal e, por isto, também misteriosa. Sim; por baixo dos véus da fragilidade humana, mortal, encontra-se algo de imortal, uma vida chamada a vencer a precariedade e transfigurá-la. São Paulo diria: trata-se de um vaso de argila portador de imenso tesouro (cf. 2Cor 4,7). [...]. Por isto, o cristão nunca se abate; não existe em seu vocabulário o termo "desânimo"; mesmo nas horas mais aflitivas, ele se lembra de que suas dores são dores de uma gestação e de um parto; quanto mais dolorido é este, tanto mais promissor de fecundidade.” (BITTENCOURT, 1999).
Mediante esta afirmação, Dom Estevão não quer degradar as afirmações que fizemos sobre Maria, muito pelo contrário, ele quer enaltecer que a gestação e a parturição da vida, não só o nascimento de um ser, mas seu cotidiano e sua história são simples e encontra na sua ambiguidade, seu mistério. Tomemos como exemplo o próprio parto de uma mulher: mesmo nas incertezas, infelicidades, em meio a dores, ele trás esperança. Neste contexto, com ou sem dor, o parto das mulheres de hoje não são diferentes do de Maria.
4. Concluindo
A virgindade que antes era sinônimo de esterilidade, de maldição, de pobreza, Maria acolhe para sua vida e transforma em sinal de vocação e intimidade com Deus. Deus, por sua vez que era rico, faz-se pobre em Maria, e torna a virgindade dela fecunda, capaz de dar as pessoas o maior fruto: Jesus.
Não disse, ainda, tudo o que desejo dizer ainda sobre este dogma Mariano, a virgindade perpétua de Maria, mas mais uma vez nos delongamos no texto e preciso terminar e o farei, novamente, com as palavras do Tratado da Devoção da Santíssima Virgem:
"Quando Maria lança suas raízes em uma alma, maravilhas de graça se produzem, que só ela as pode produzir, pois é única Virgem fecunda que não teve jamais nem terá semelhante em pureza e fecundidade." (S. Luís Maria Montfort).
Referências:
BITTENCOURT, Dom Estevão. Dores de parto. Janeiro/1999. Disponível em: <http://www.materecclesiae.com.br/em69.htm>. Acesso em 12 de mai 2012.
COLANGES, Fustel. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MONTFORT, São Luís Maria Grinion de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. São Paulo: Vozes, 2008.
SÃO JERÔNIMO. Catequese: A virgindade perpétua de Maria. Disponível em: <http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=772> Acesso em 15 de jan 2003.
VATICANO. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
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