Encontrar e Percorrer o Caminho do(no) Natal
- Alan Dionizio (Catequista leigo católico)
- 17 de dez. de 2016
- 4 min de leitura
“Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça.” (Jo 1,16).
É curioso perceber que no período que circunda o Natal, as pessoas estão mais alegres e, até mais disponíveis para a caridade, mesmo que seja na compulsividade do consumismo – isto é, do dar presentes para crianças e pessoas queridas –, para fazer doações em campanhas. As famílias procuram se reunir, perdoando-se e acolhendo uns aos outros. Enfim, tudo parece dizer que nesta época as pessoas em geral são boas e que o mundo é belo porque é bom!
Engraçado que muitas pessoas não dão conta que, independente de religião, toda esta “bondade”, comemoração, advém do mérito de um único homem: Jesus! Afinal, celebra-se seu nascimento. Mas as pessoas ficam presas à antiga propaganda da Coca-cola que dizia, “A vida é curta. Curta!”, e à euforia da festividade e terminam sem se perceber ou refletir o motivo da festa.
Talvez alguém, hedonista, que vive apenas pelo prazer dirá: “Se todos os caminhos levam à Roma. O importante é que no Natal as pessoas, seja lá por que motivo, estão felizes”.
Eu diria que “Alice no País das Maravilhas” responde bem a esta provocação efêmera quando perdida no mundo encantado se depara com um “sábio” gato:
(Alice) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
(Gato) Isso depende muito de para onde quer ir – respondeu o gato.
(Alice) Para mim, acho que tanto faz... – disse a menina.
(Gato) Nesse caso, qualquer caminho serve – afirmou o gato.
(Alice)... Contanto que eu chegue a algum lugar – completou Alice, para se explicar melhor.
(Gato) Ah, mas com certeza você vai chegar , desde que caminhe bastante.
Moral da Estória, em respeito ao Prof. Historiador Michael Seymour: Qualquer caminho serve para quem não sabe para onde quer ir ou o que quer ser.
Assim, devemos nos questionar no Natal sobre quem queremos ser, sobre onde encontramos uma alegria verdadeira, onde encontramos a fé, a beleza e o sentido da vida? O Natal nos fornece uma única, certa e autêntica resposta: Jesus.
O MENINO-JESUS É O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA! (Jo 14, 6).
A Liturgia do Natal pode nos ajudar a encontrar Jesus e o Natal (Jesus e o Natal podem ser coisas diferentes). Para isto, proponho um pequeno itinerário entre os relatos dos evangelhos.
Na Vigília de Natal (noite de 24/12), o evangelho de Lucas (Lc 2, 1-14) nos contará o nascimento de Jesus e de suas dificuldades. Mas em sua essência conta uma grande verdade sobre Deus e o homem.
1º Toda pessoa precisa conhecer a Deus. E Deus se dá a conhecer.
2º Olhar a grandeza de Deus é reconhecer a nossa pequenez.
3º Não somos pequenos para Deus.
No evangelho de Lucas (Lc 1,1-14), as pessoas preocupadas com seus afazeres e seus ganhos não viram em José e Maria grávida algo importante ou um sinal do céu. Logo, não lhes deram abrigo. Afinal, a cidade estava cheia, o mundo estava cheio de coisas. Cheio do vazio, o mundo cego não podia ver na família José e Maria algo especial.
“Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 1, 7).
Assim, o abrigo para o nascimento de Jesus é um local junto aos animais. Seu berço – se pode-se assim dizer – é uma manjedoura como bem explica o evangelho. As faixas prenunciam um mundo que rejeitará Jesus e que o levará ao calvário (paixão e morte).
Interessante que depois de 2000 anos achamos a manjedoura é até um local acolhedor e bonito como refletem os presépios de hoje. Geralmente somos convidados a olhar a humildade de Deus através do sinal da manjedoura, afinal Deus se faz pequeno e frágil no meio de nós. Entretanto, quero convidá-lo a uma igual verdade, contada pelos anjos: nasceu para nós um Salvador.
Jesus, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não apenas se humilha, mas exalta, eleva a dignidade, o valor e o significado de ser homem, isto é, de ser gente, de sermos nós mesmos, pois Deus quis e se fez homem, igual a nós, exceto no pecado, pois o pecado não faz parte da essência do homem.
Em seu primeiro ato, Jesus ilumina e eleva o valor da pessoa humana, de cada um de nós, até os céus.
Em seu primeiro ato de salvação, Deus nos salva de nós mesmos, revelando o quanto somos preciosos, apenas por ser quem somos.
É descobrindo este ato de Jesus em nós, que olhando para Jesus, podemos nascer de Deus e, então, alcançar o grande poder: “o poder de sermos chamados de Filhos de Deus!” (Cf.: Jo 1, 12).
O PODER DO DEUS TODO-PODEROSO
Nesse caminho, somos chamado a olhar para o carinho de Deus. Espera do menino-Jesus é envolta pela esperança de um povo escravo e sofrido em sua história. O sofrimento às vezes pode nos fazer desaprender a amar, a ter compaixão pelo outro. No sofrimento, as pessoas querem, muitas vezes, mais que a libertação do sofrimento, querem a reparação pela justa medida, noutras palavras, "o olho-por-olho".
Para tanto, um Deus Todo-Poderoso é sonhado como alguém que vem com tamanho poder (força) para subjugar os maus, os injustos. Contudo, este Rei não é sinônimo de Amor, não pode ser amado mas temido.
Eis a sabedoria divina: Deus se faz menino, numa manjedoura, nascido de uma frágil mulher, para tantos, uma Maria. Naquela noite há festa na terra e nos céus. Mas não há medo.
Na simplicidade, fraqueza e fragilidade de um recém-nascido, Deus se coloca, se submete a nossa história como uma criança indefesa. Esta criança apenas deseja e quer ser acolhida junto aos seus, ser amada.
Uma criança não possui poder para subjugar os outros; ao contrário, ela corre o risco de ser maltrada, rejeitada. Seu único e maior poder, é um convite a amar.
Seu poder reside na capacidade de nos fazer descobrir o Amor enquanto potência que é capaz de nos fazer transformar sua própria vida em prol de um outro que não tem nem pede nada em troca, apenas amor.
É assim que o Deus Todo-poderoso não é senão um Deus Todo-Amor. E o nascimento do amor é um exercício de alegria, a olhar o mundo com outros olhos e acolher no sorriso de uma criança, a nova vida que surge.
É Natal!
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