OS SACRAMENTOS: atos DE FÉ
- Alan Dionizio (catequista leigo católico)
- 17 de dez. de 2016
- 5 min de leitura
“O justo viverá pela fé” (Hab 2,4).
No primeiro texto sobre os sacramentos, para os cristãos primitivos, vimos: 1º. A doutrina dos sacramentos vai surgindo aos poucos na igreja; 2º. Os cristãos já realizavam ritos que fazem menção aos sacramentos como o conhecemos hoje; 3º. O fundamento do sacramento é Cristo.
Agora convém examinar como a Igreja primitiva descobriu a importância dos sacramentos? E o que a experiência antiga pode tornar novo nosso olhar para os sacramentos?
O evento de Pentecostes (At 2) confirma o início de uma Igreja que se dissemina no mundo, assim, a Igreja está no mundo sem ser do mundo. Como ser cristão na sociedade, numa sociedade que não conhece a Deus (At 17,23) nem liga para seus valores? O que os cristãos oferecem de diferente ao mundo?
Esta resposta é dada pela prática eclesial. Como ninguém pode ser cristão sozinho, de modo igual não pode haver Igreja no mundo com um cristão apenas.
Espalhados na sociedade, os cristãos são chamados a se reunir, e só reunidos podem evangelizar.
At 2, 44. 46.47: “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. 46 Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação.”.
É a assembléia dos fiéis, expressão e fonte de comunhão entre os discípulos de Cristo ressuscitado.
Mas para que a Igreja se reúne?
“Quando a Igreja se reúne, convocada por Deus, ela tem uma função a cumprir. Ela age, pratica, tem uma vocação a ser realizada de maneira concreta. A prática da Igreja é, ao mesmo tempo, testemunho apostólico de Cristo e experiência comunitária, ritual e orante” (SESBOÜÉ; BOURGEOIS; TIHON, 2005, p. 33).
Noutras palavras, os primeiros cristãos se reuniam como forma de partilhar seus testemunhos de novas pessoas, de recordar os passos de Cristo. Para eles a vida é comum, é simples e é una (At 2,44). Assim também deve ser una sua vida de fé no mundo e na Igreja, ou seja, aquilo que se celebra, vive-se.
“Por conseguinte, a fração do pão, ou a eucaristia, é inseparável do conjunto, igualmente concreto, da vida eclesial com seus componentes de catequese, de convivência espiritual e material, de oração de ação de graças e de súplica. Os sacramentos não são isoláveis” (SESBOÜÉ; BOURGEOIS; TIHON, 2005, p. 33).
Outro ponto de destaque dos primeiros cristãos relacionados à prática dos sacramentos, além da indissociabilidade entre fé e vida, é a oração da Igreja. Este é um dos motivos porque a fração do pão, a eucaristia, é também chamada de bênção e de ação de graças. Vale ressaltar que algumas orações já parecem ter pequenos elementos rituais, como a água, o pão, o óleo, a imposição de mãos, destacando-se o batismo e a eucaristia porque sua fórmula parece ser dada pelo próprio Cristo Ressuscitado.
Toda oração da Igreja é direcionada para Deus para que Ele, por força da Palavra, produza o sacramento. Veja o que Stº. Agostinho nos diz sobre o Batismo: “Retira a palavra. Que é que sobra? Somente água. A palavra se junta ao elemento (material) e advém o sacramento, como se fosse uma palavra que se visibilizasse”.
Desse modo, é por meio da Palavra, direcionada e proveniente de Deus, presente no sacramento, que a própria Igreja se torna, com efeito, presença de Cristo no mundo.
Nesse sentido, podemos resumir a catequese dessa semana da seguinte forma: “O sacramento é, portanto, um ato. Mas é primeiro um ato de Deus antes de uma ação eclesial. Nós o fazemos, o celebramos, o damos e o recebemos. Mas é Deus quem tem a iniciativa e concede à Igreja que o realize. Como declara ainda Agostinho em outra frase famosa: ‘Se Pedro batiza, é ele [Cristo] que batiza; se Paulo batiza, é ele quem batiza; se Judas batiza, é ele quem batiza’.” (SESBOÜÉ; BOURGEOIS; TIHON, 2005, p. 34).
Talvez a pergunta que devemos fazer, nesse texto de hoje, é que lição os primeiros Cristãos nos comunicam sobre a doutrina dos sacramentos?
Eu diria: - Os sacramentos devem ser assumidos a sério pelos cristãos. Eles são a graça operante de Deus em nossas vidas. É Deus agindo, atuando em nossa vida, por meio das palavras, orações, que confessamos e professamos como credo.
Além disso, se o sacramento é de iniciativa primeiramente divina, deve-se confiar mais em Deus do que em nós mesmos para se viver plenamente a graça do sacramento. Como assim? O pão se torna carne não porque cremos, mas porque Deus nos confia tal graça. Um casamento dura não porque você diz ‘sim’ e deseja ser feliz com o outro, mas também porque Deus confia ao casal tal graça.
Isto quer dizer que Deus é responsável pelo sucesso ou fracasso de um sacramento?
Este é um questionamento imaturo. Por quê? Porque Deus tudo realiza perfeitamente. Logo, o fracasso dos efeitos do sacramento na vida de um cristão se dá, muitas vezes, pela confiança mais em si do que na graça divina; no desejo de celebrar um sacramento mais para si do que para partilhar Deus com a comunidade.
Por exemplo, quantas vezes, a foto com o padre ou bispo é mais importante do que o que se vive na Primeira Eucaristia ou na Crisma; a festa de casamento marca mais do que a celebração na Igreja. Assim, tornamos os atos (sacramentos) vazios de significado por que não damos atenção às Palavras divinas e porque achamos que o sacramento depende mais de nós do que de Deus e da comunidade.
Depois do Batismo, a criança, filha de Deus precisa do acompanhamento divino e dos pais para crescer na fé. Se deixar a criança sozinha, ela esquecerá que precisa de Deus. Quando um casamento leva ao distanciamento de duas pessoas, é comum ouvir uma delas dizer, “o que fiz de errado?”. Tal pergunta assume apenas uma responsabilidade (presume-se um culpado), mas não se recorda que tal sacramento deveria ter estado entregue a Deus.
A chave para se viver um sacramento é compreender que ele é um ato de fé, porque, primeiro, é de iniciativa de Deus (é Ele quem age); segundo, porque confiamos que Deus pode fazer aquilo que não conseguimos fazer e ultrapassa o que podemos fazer; terceiro, porque o sacramento revela que Deus quer nos reunir e nos acompanhar em seu Amor.
Então, a fé se une a vida. Como diz uma das bênçãos das alianças ditas pelos noivos: “Acredito na força do amor santificado pelo sacramento do Matrimônio! [...], esta aliança é sinal de que amo você e lhe serei fiel. Que Deus me ajude a viver e cumprir esta promessa. [...]”.
Referências:
CNBB. Ritual do Matrimônio. São Paulo: Paulus, 2009.
SESBOÜÉ, B.; BOURGEOIS, H.; TIHON, P. História dos dogmas: Os sinais da salvação. v.3. São Paulo: Loyola, 2005.
VATICANO. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
VATICANO. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2008.
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