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Uma Carta sobre a Liberdade Cristã

  • Alan Dionizio (catequista leigo católico)
  • 23 de jan. de 2017
  • 8 min de leitura

Um texto da juventude...

ANTES DO INÍCIO


Se você quiser ir direto ao ponto, vá para o terceiro tópico do texto. Agora, se quiser entender alguns porquês de não darmos importância à liberdade e vivermos feito crianças birrentas, aconselho a ler tudo e, pode me escrever se discordar.


1. INICIANDO A VIAGEM


Cara, Liberdade é uma coisa tão doida de simples que só na loucura podemos entender sua grandeza.

A liberdade é uma viagem metafísica das palavras. Entendeu? Isso mostra o quanto você está: primeiro, doido para parar de ler o texto; segundo, irritado porque está preso às minhas palavras.


Mas vamos deixar de enrolar e dar início a esta viagem que é a liberdade.

No filme Matrix, Neo, numa conversa com um ‘programa de computador (da Matrix), afirma que este era capaz de sentir e o programa responde algo do tipo: “Amor? É uma palavra. O que importa é a conexão que essa palavra indica.” Isto quer dizer que as palavras são vazias se eu não dou um significado para elas e, com isso, que diferença elas fazem na minha vida?


É por isso que você nunca pensou na liberdade. É por isso que você acha que é livre. E, mais ainda, é por isso que muitos não vêem sentido em nada, nem no futuro. É por isso que não conseguimos mudar nosso jeito de ser naquilo que achamos que não somos tão bons.

Sabe frases como – ‘Jesus te ama’. ‘Ame ao próximo’. ‘Jesus nos libertou’. Ou mesmo, a frase bíblica ‘Foi para sermos livres que Cristo nos libertou./ Fostes chamados à liberdade’ (cf. Gl 5,1.13) – não têm sentido algum para quem não é cristão ou quem não teve uma experiência do amor de Deus.


Isto é importante porque, enquanto animadores somos ou 8 ou 80. Ora achamos que os crismandos são um bando de ateus e nós a santidade, ou o inverso, os crismandos são santos e amantes, beatos fervorosos de Deus. Se você pecar vai direto para o inferno, e você será vergonha para Cristo. Então, com essas falsas idéias não podemos evangelizar, não podemos indicar/levar as pessoas para Deus, pois queremos mostrar e revelar o nosso deus. Daí que as pessoas têm de amar, tem de ser como eu quero que elas sejam para Deus. Grande engano.

Como então, devo entender a liberdade? E a Liberdade me dada por Deus?


2. SOU OU POSSO SER LIVRE?


Bem, você, eu não sei como a pode entender, mas as palavras a seguir são a maneira como eu aprendi a experimentar.


Ora, aos 10 meses de idade, aprendi ao cair do berço que não era livre da dor. Aos 2 anos, colocando a mão numa panela quente, aprendi que não era livre do fogo e das queimaduras. Outra coisa que aprendi ao assistir o super-homem e brincar com um imã de geladeira foi que eu não era o homem de ferro. Em toda minha vida, na adolescência, hoje na vida adulta, aprendi que eu ainda não sou livre da curiosidade, de desejos, de fazer o mal e de muitas outras coisas. E também aprendi que estas prisões não são só minhas, mas de todas as pessoas. Quer ver? Você não resiste a uma deliciosa sobremesa, sequer fica dois dias em jejum por opção. Você não resiste a uma paquera saudável, sequer resiste a ir a um show, sem se permitir querer ‘ficar’. Você é capaz de sentir inveja e desejo de vingança. Eu também sinto. Com tudo isto, aprendi que liberdade não era sinônimo de imunidade (ser imune, imbatível), isto é, de ser livre das coisas, de poder fazer o que quiser, de não precisar de ninguém.


A prova maior de que liberdade não é fazer o que se quer, é que, se desejarmos andar nus pelas ruas da cidade, mostrando nossa mais primitiva beleza, seremos penalizados, com a seguinte justificativa: “Minha liberdade termina quando a do outro começa”. Outro erro, ser livre não é ficar se policiando para não ofender ninguém ou ter sempre medo de, querendo ou não, magoar alguém. Essa idéia de liberdade é que cria muros para nos proteger de outras pessoas.


3. LIBERDADE EM SER CRISTÃO


Mas então, o que aprendi sendo cristão, animador de crisma, e ouvindo a Igreja? Descobri que aquilo que me torna livre, os momentos que me sentia livre, tudo isto era Amar. O amor nos liberta. Quando digo ‘amor’ falo de algo que brota de nossos mais íntimos pensamentos, que nos faz, ainda que por breves momentos, admirar a beleza de uma paisagem, de nossa vida, de tudo. O mesmo amor que nos faz sentir-se perto de alguém quando amamos, mesmo quando distantes desse alguém.


Assim, entendo que Cristo foi livre porque nos amou até os extremos, porque decidiu nos amar e, com isto, o amor dele unia-se, ou melhor, preenchia o amor de quem ele encontrava. O amor de Cristo era tão grande que as pessoas mudavam ao encontrar com ele e mais, elas se sentiam unidas a Ele. Jesus sabia compreende-las, ouvi-las, corrigi-las porque sua capacidade de amar fazia-o ir ao mais profundo dos corações delas. Alguns escolhidos por Cristo, daqueles que se encontraram com ele, muitos por nós não seriam dignos de tal momento, porém o Amor de Cristo enxergava onde não seríamos capazes de ver luz alguma. Julgamos com os olhos da visão e não do coração. Cristo vê com o coração. Por isso Jesus tinha a sabedoria de olhar tudo com novos olhos e ver o essencial. Sabedoria esta de poucos.


Veja o exemplo de olhos cristãos sábios de um não-cristão, o Mahatma Gandhi. Ao passear pelas ruas e ver inúmeras lojas chiques com jóias e roupas glamourosas. Ele sorriu. E perguntaram porque ele ria e, ele disse: “Sinto-me bem por não precisar de nada disso para ser feliz”. No entanto, este não foi privilégio de Gandhi. Na história de todos os santos e santas confirmados pela Igreja, São Francisco, Beata Madre Teresa de Calcutá, Santa Teresinha do Menino Jesus, esse testemunho vive.


Quando amamos, sempre descobrimos algo novo, sempre queremos estar com o amado. Isto não nos prende, mas nos completa. O amor faz-nos descobrir virtudes por mais aparentes que sejam os defeitos das pessoas. A liberdade é uma partilha de amor. Liberdade é amar de tal modo que nosso amor se dilui no amor de Deus, amor supremo e perfeitíssimo. Entenda, esse amor não é posse, mas antes doação. O amor chega primeiro que toda razão.


Neste sentido, como posso ser livre e ser chamado à liberdade? Simples, amando. Você, antes de sair fazendo caridade ou de saber os nomes dos sete sacramentos, precisa, nas palavras de Pe. Zezinho (o mesmo de ‘Uma dia uma criança me parou’) “entender o que é o amor. Santo é o amor. Água de nascente, fonte cristalina, silenciosamente vai mudando o nosso ser”. O amor, diz o padre, é Sempre Sol Nascente. Podemos ser livres sem sair do nosso quarto num dia de chuva. Só é preciso libertar o coração, descobrir o verdadeiro valor de tudo em nossa volta e, nesses valores descobrir o sentido para a vida.


“Ame e faça tudo que quiseres”, dizia Santo Agostinho. O amor também produz fé. A fé e a esperança são medidores do amor para saber se estamos sendo pessoas que realmente amam. Imagine. Um menino não vive grudado em sua namorada 24h, mas sabe que ela continua-o amando, mesmo quando ele não está perto. O amor, pela fé e pela esperança pode ser cuidadoso, zeloso, mas não ciumento. Um amigo não tem de sair ou partilhar todos os momentos da vida dele com você para que você tenha certeza que ele é seu amigo. Um exemplo mais profundo da liberdade, são os sacramentos. Na Eucaristia, de forma especialíssima, o amor de Cristo se dilui para os nossos corações e nos preenche. Muito embora, todo sacramento é fonte de fé e de amor. No Batismo e na Crisma, entendemos que a água e óleo, não são atributos da natureza apenas, são sinal do amor de Deus e leva-me e une-me ao Cristo. A água do batismo não faz eu entrar no ventre de minha mãe, mas faz-me nova criatura porque seu valor é nascer/ ser em Cristo. O amor na água do batismo começa por descobrir na água um novo valor e sentido para sua vida, senão ela será só rito.


A liberdade que é amar, oferece àqueles que a descobrirem, um compromisso, o de estar procurando sempre se libertar, inclusive da síndrome de Gabriela (Eu nasci assim e serei toda a vida assim) e de nosso passado. Porque você acha que se você errou num momento de sua vida ou toda vida até agora, que isto significa que seu presente e seu futuro têm de continuar assim? Contudo, liberdade não é a capacidade de apagar o passado, mas não viver preso a ele, é aprender com os fatos alegres e tristes. Arrepender-se não é se martirizar o resto da vida, e sim, melhorar onde podemos ser melhores. “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).


Para ser livre, não despreze os frutos nem doces, nem amargos e podres de sua vida, pois eles fazem parte de você, mas direcione novos olhos para eles. Você já sabe que os podres causam infecção intestinal. Logo, não passe a vida inteira numa privada. Este é o compromisso da liberdade: fazer-nos cada vez melhores, e devagarzinho nos levar a felicidade. Daí, você descobrirá que ela é Cristo. E Cristo não meterá medo em você mesmo quando você errar.


4. LIBERDADE E CORAGEM DE AMAR


É preciso ainda dizer uma coisa: acertar e errar faz parte da vida, a Liberdade não cresce com nossas possibilidades de escolha. Somos livres cada vez mais que decidimos o caminho que queremos. Gosto dessa ideia: um pássaro não será mais livre se tiver 5 portas abertas em sua gaiola ou se sua gaiola pudesse ser maior. Ele será livre se independente da quantidade de portas abertas, decidir ficar ou sair da gaiola. Assim, não precisamos ter vários(as) namorados(as) para termos a livre certeza de que encontramos alguém para casar, para viver ao nosso lado durante toda vida. Se alguém encontrou um amor “verdadeiro” e recíproco não há porque trocá-lo. É nossa coragem de decidir que permite que nos entreguemos ao nosso verdadeiro amor, que possamos amar e sentir-se amados.


Ora, quando uma pessoa decide ser livre, desperta primeiro sua capacidade de amar além de si mesma e, assim, conhece outras formas de amar e vários tipos de amor, de dar e receber amor. A liberdade é medida do amor. Por isso, em Cristo que a todos e tudo amou nos tornamos mais livres e descobertos pelo amor. Uma vez encontrado Cristo em nossa vida, decidido por Ele, não há amor ou bem maior pelo qual o possamos trocar e de quem possamos aprender a ser melhores. Dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração estará inquieto até que repouse em Deus.”.


Se você chegou até o final desse texto, obrigado e parabéns. Desculpa por ter escrito muito. Estava com muita saudade de conversar com você. Se você descobrir liberdade em amar. Principalmente você, animador, poderá fazer como São Paulo e dizer para os crismandos (recém aprendizes desse amor de Deus): - Na sua casa, em seu coração, existe, ainda, “Um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu o anuncio a vocês! (At 17,23)”. E eles, aos poucos aprenderão a canção da liberdade:

Hoje Livre Sou

Presença forte em mim, eu posso dizer: habitas aqui Porque escravo eu fui e hoje eu sou mais livre aos teus pés Sentido na vida a minh'alma encontrou Tua mão poderosa veio e me levantou Agora eu posso declarar Hoje livre sou Tenho sede da tua graça, cada dia mais Sou mais forte e vou mais longe quando aqui estás Com palavras de amor te adoro, Senhor Hoje livre sou Meu tesouro, minha herança, meu Supremo Bem Nem tribulações nem dor podem nos separar E jamais irão romper o que o amor selou Hoje livre sou


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Catequista leigo católico

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