Reflexões sobre o sentido da SEXTA-FEIRA SANTA
- Alan Dionizio (Catequista leigo católico)
- 14 de abr. de 2017
- 3 min de leitura

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No dia de hoje, celebra-se a Paixão e Morte de Jesus Cristo.
“Jesus disse: - Eu não te amei de brincadeira!”. (Meditação da Beata Ângela de Foligno).
Na exaltação da experiência da Paixão de Cristo, declara-se que não há Ressurreição sem a experiência da cruz, da dor e do sofrimento. A vida feliz não significa uma vida que seja viver um céu.
Cristãos ou não-cristãos sabem, hoje, que continua-se a anunciar no mundo a loucura da Cruz de Jesus Cristo (1Cor 1,18.22-24).
Neste dia, muito antes da frase “Deus está morto” dita por Nietzsche se tornar famosa, já se cantava esta mesma expressão na antiga tradição cristã. Parece que o homem é capaz de matar a Deus, viver num mundo sem Deus, sem precisar dele, de contínua e profunda solidão, sem esperança diante do sofrimento e das (in)certezas do viver, dia em que a falta de fé e amor ao próximo, a violência, o poder, a corrupção, a injustiça e a morte parecem prevalecer sobre o mundo.
Para os católicos, por exemplo, no dia de hoje, os sinos não retinem (ecoam), o altar está desnudo, sequer há missa, não há ação de graças.
“Para inteirar-nos de quanto Deus nos ama, temos agora um meio simples e seguro: ver quanto sofreu! Não só no corpo, mas sobretudo na alma. Porque a verdadeira paixão de Jesus é a que não se vê [...].” (Fr. Raniero Cantalamessa, OFM).
Na Morte de Cristo, anuncia-se que Jesus desce aos infernos. A morte e o inferno que antes significavam o destino último onde o amor e a esperança não habitam. Ao descer aos infernos, Jesus diz-nos que no mais profundo, baixo e vil do ser humano, lá onde o homem não é capaz de amar, Jesus toma a iniciativa de ir até lá e resgatar o humano. Jesus Cristo revela-se como o Senhor da Vida e da Morte, por isso se afirmava que no momento de sua morte, muitos mortos ressuscitaram - para dar testemunho de que a Vida entrou em seu meio - (Mt 27,52).
“Já entendi que é quando nos abaixamos até o inferno que Deus nos levanta até o Paraíso.” (São Paulo da Cruz).
A Morte, vencida, passou a ser Páscoa (passagem) e uma realidade diferente do inferno. A morte deixou de ser um evento último e definitivo, pois a Vida habitou na morte e existe vida (esperança) após a morte. A vida e a morte estão intimamente unidas no símbolo da Cruz de Cristo.
Na Paixão de Cristo, anuncia-se que Deus ama até os extremos (Jo 13,1), sem limites, sem desistir, sem esperar recompensas e, mesmo na rejeição de seu amor (Jo 15,13).
“Oh, meu Bem! Quando fostes flagelado, que sentia o vosso santíssimo Coração? Meu amado Esposo, quanto vos afligia a consideração de meus pecados e minhas ingratidões.” (São Paulo da Cruz)
Na Paixão de Cristo, anuncia-se que Deus se compadece (compreende) e caminha ao lado de todos aqueles que sofrem e carregam suas cruzes (Lc 9,23; Mt 11,28-30). É dessa certeza que a fé supera a dor.
“Não é a impossibilidade de explicar a dor que faz perder a fé, mas a perda da fé que torna a dor inexplicável.” (Fr. Raniero Cantalamessa, OFM).

Deus nos amou primeiro (1Jo 4,19).
Na Paixão de Jesus Cristo, anunciamos que o amor de Deus não é mérito, é pura doação (Jo 10,18). Nada temos que possa pagar (retribuir), nada fazemos que nos torna merecedores deste amor (Sl 116,12; Tt 3,5-7) ou que seja capaz de impedir a ação desse amor, nem mesmo todo o pecado da humanidade. Nem mesmo nossa imperfeita caridade.
“Seja o que for de que o nosso coração nos acuse, Deus é maior do que nosso coração.” (1Jo 3,19)
“Tuas penas, Deus meu, são os penhores de teu amor.” (São Paulo da Cruz).
O dia da Paixão de Cristo convida de modo especial a reflexão, ao jejum, a oração e a caridade. Seja como caminho de conversão, exercício de virtudes, e mesmo nos simples costumes de comer peixe (carne branca) ou evitar doces procura-se, antes de tudo, recordar, fazer memória, ou preservar do esquecimento o Amor na Paixão de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
"“Amor meu, por que não morro por vós? Por que não desfaleço por vós”. E, às vezes, sinto que não posso mais falar e fico assim em Deus com os tormentos infundidos na alma. E, às vezes, parece que meu coração se desmancha”. (São Paulo da Cruz)
De modo particular, na sexta feira santa, a alegria é com contrição, a morte de Cristo é anunciada com respeito e reverência por Seu Amor.
“Forte como a morte é o amor”. (Ct 8,6)
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