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Da Pergunta: "Por que as pessoas nascem com deficiência?"

  • Foto do escritor: Alan Dionizio Carneiro
    Alan Dionizio Carneiro
  • 21 de mai. de 2017
  • 6 min de leitura

Gosto muito do site “O Catequista”, o qual conheci há pouco tempo. Entre uma e outra postagem, deparei-me com um que me chamou atenção na forma de expor um assunto tão delicado em seus desdobramentos: "pessoas com deficiência".

Fonte:http://ocatequista.com.br/blog/item/4861-deficientes-de-nascenca-somos-todos-nos


O artigo de opinião (reflexão), “Por que as pessoas nascem com deficiência?”, chamou-me a atenção pela rapidez da resposta correta sobre o modo como devemos tratar as pessoas, nossos irmãos com deficiência e perceber que cada ser humano tem suas imperfeições físicas, psíquicas e espirituais.

Vejo que as pessoas que se voltam para o site são preocupadas com a catequese e uma sã doutrina católica. Por isso, ousei participar do tema e como amigo católico, fazer as ponderações que considero importantes e que me preocuparam quanto aos desdobramentos do artigo do site "O Catequista".


1. O caminho da resposta rápida é perigoso, pois pode simplificar a questão e prejudicar o entendimento da fé. Enfim, o que chamo de resposta rápida que tiro de conclusão do artigo: As pessoas nascem com deficiência em razão do pecado original.


IMPLICAÇÃO: Os desdobramentos desta tese senão bem esclarecida prejudicam: a) A doutrina sobre Deus e o Homem (refiro-me a natureza humana e a relação com Deus); b) A doutrina do pecado e da graça; c) A doutrina da Redenção e Salvação em Jesus Cristo. Obviamente, nisto está também associado uma teologia do corpo. Diante disto resolvi escrever para tentar a ampliar um pouco mais a ideia do artigo (ressalto com isso que não me atrevo a diminuir o autor nem suas intenções).


2. ESCLARECIMENTOS


Primeiro ponto: O artigo apenas se resumia a referenciar a história bíblica do pecado original e colocá-la sobre o enfoque da desobediência de Adão e do princípio da hereditariedade do pecado original.

O Catecismo, §2448, afirma que as doenças e deficiências físicas estão relacionadas ao pecado original. Acertadamente colocado pelo artigo.


Segundo ponto: Bem, o Catecismo (CIC §385-421) nos diz que o pecado original não pode ser entendido sob a ótica de uma ação. O pecado original é um estado. (Lacuna do artigo e que, apesar da advertência pode gerar mal entendidos e preconceitos, na minha opinião).


Então, a doutrina nos orienta a entender o pecado original primeiro como uma ferida na relação do homem com Deus. Na sua origem (no jardim), o homem tinha uma relação sem falhas com Deus (uma aliança), o conhecia, o via e dialogava com Deus. Ele vivia na intimidade com Deus. Com o pecado original, o homem perdeu essa relação de intimidade, perde a confiança em Deus, no outro e nele próprio. O homem, após o pecado, nasce sem conhecer a Deus, mas com um desejo de buscar a Deus (dom da fé, de crer em algo). De modo que esta relação será restaurada em Jesus Cristo e, que pela fé (batismo, a fé que se crê), durante a vida, o cristão será convidado a voltar a relação de intimidade.


O Catecismo no seu §2448: “«Sob as suas múltiplas formas: indigência material, opressão injusta, doenças físicas e psíquicas, e finalmente a morte, a miséria humana é o sinal manifesto da condição congênita de fraqueza em que o homem se encontra desde o primeiro pecado e da necessidade que tem de salvação.” (versão on line da Santa Sé).


Ora, sinal não significa o mesmo que causa, mas referência. Eu vejo um sinal vermelho (semáforo) que me faz referência a parar. O próprio parágrafo explica que isto nos recorda a condição congênita de fraqueza que se encontra desde o primeiro pecado. Fraqueza, isto é vulnerabilidade. Com a quebra da relação com Deus, fora da intimidade do paraíso, o homem não vê mais a Deus e como que à deriva no mundo, o homem teme o outro, seu corpo frágil adoece, tem medo da morte. Ele sofre, encontra Deus na caminhada, mas por vezes, o mundo parece difícil, o homem duvida ou perde a fé diante das provações de sua vida terrena, quando doente ou não alcança suas vontades questiona o amor de Deus. Busca a santidade mas, no dia-a-dia, sede muitas vezes ao pecado. Enfim, ele é fraco e qualquer situação de vulnerabilidade revelará o quanto o homem tem necessidade de salvação, de voltar a sua condição original da natureza humana: criado como imagem e semelhança de Deus, na e por Sua Graça.


A teologia do Antigo Testamento e há época de Cristo acreditava que as doenças eram sinônimas de pecados herdados (causas), que remetiam a culpa primeira. Isto levava a exclusão das pessoas com doenças e deficiências tidas por impuras. Exemplo: As pessoas com lepra (hanseníase) que viviam às margens do muro da cidade.

Mas quem não recorda do cego de nascença no evangelho de João (Jo 9, 1-41)? A pergunta feita a Jesus fora: “quem pecou? Ele (cego de nascença) Ou seus pais (hereditariedade)?”. Ao que Jesus respondeu: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus”.

Noutras palavras, diria eu, Jesus (verdadeiro Deus e verdadeiro homem) se interessa pelo resgate da relação primeira de unidade do homem com Deus. Essa necessidade é universal: a todos, com deficiência ou não, é necessário manifestar a glória de Deus.


3. CONCLUSÃO:

O catecismo jamais deixou a entender que as pessoas com deficiência são assim por fruto do pecado original. E isto vale para outros documentos da Igreja. As encíclicas papais de João Paulo II; os documentos da CNBB, em especial aqueles próximos ao ano de 2006 em que tivemos uma Campanha da Fraternidade sobre a Inclusão da Pessoa com Deficiência.


DO QUESTIONAMENTO: Por que as pessoas nascem com deficiência? Por que Deus as escolheu serem assim?

Podemos pensar nas consequências dos nossos atos de pecado? Sim, é possível. Afinal, imagine-se alguém que durante a gestação fez uso de produtos para abortar ou de drogas que resultarão numa deficiência congênita. Pode acontecer também de nada acontecer e a criança nascer sem sequelas. De ambos os lados, há inúmeras histórias humanas. Deus privilegia a uns e outros não? Não.


Alerta: Vivemos no Brasil, várias epidemias, dentre elas, atualmente, a Síndrome congênita da Zika com milhares de casos registrados. Culpa dos homens por não cuidar como deviam da natureza. Posso pensar assim e na ideia de que Deus deixa o povo à margem de seu livre-arbítrio em sua própria história. E aceitar que Deus permite que o castigo produzido pelos homens o alcance. CUIDADO: pode-se estar bem próximo de uma visão carrasca de Deus, nada misericordiosa, alheia a história humana e rejeitada pela Igreja.


Não sei dizer com detalhes de como Deus age em cada história ou ser humano (Não sou Deus e comi quando estava verde o fruto da árvore do conhecimento, das regras da vida). Certo é que, com deficiência ou sem, todos os homens mostram a Glória de Deus, pois nada, nada – doença ou pecado que seja – extingue, aniquila nosso mistério e nossa dignidade essencial de ser imagem e semelhança de Deus.

E, mostrando a Glória de Deus, na história humana haverá sempre FÉ, ESPERANÇA (em Deus e no homem) e CARIDADE (Amar, a partir dos que mais sofrem e que são excluídos).


Junto às pessoas com deficiência, todos somos convocados a defender e lutar pela instauração do Reino de Deus no Mundo, um reino de paz, justiça e caridade, principalmente para aqueles que mais se aproximam do sofrimento de Cristo em suas vidas sofridas. Somos chamados a, seguindo o exemplo de Jesus, o Bom Samaritano, retirar as pessoas da beira do caminho e ser para elas, o verdadeiro Próximo.


Está correto o site: Cada um é convidado a tomar sua cruz. Não o que faz sofrer apenas. Cruz não significa apenas isso. Tomar a sua cruz é tomar sua própria vida (com o que tem de bom, o que tem de pesado, o que podemos ou não poderemos mudar), seu próprio destino e seguir o Cristo. Nada poderá nos afastar do amor de Deus (Rm 8,38). Mas também sabemos (pela fé) que Deus estará nessa caminhada, participando das alegrias e sofrendo conosco.

Deficiência alguma diminui a dignidade da pessoa humana, principalmente, diante de Deus.

Deficiência alguma impede o seguimento à pessoa de Jesus Cristo.



Um abraço fraterno


Referência:

Catecismo da Igreja Católica.

Manual de dogmática Católica, Ed. Vozes. (Vem com recomendação do Papa Bento XVI).

Num só corpo: tratado mistagógico sobre a eucaristia. Ed. Loyola.

Obs.: O site "O Catequista é aqui mencionado apenas como fonte do artigo, evitando assim a reprodução integral aqui do mesmo. Portanto, não há intuito de macular a imagem do site.


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