top of page

Pentecostes – A descida do Espírito Santo

  • Foto do escritor: Alan Dionizio Carneiro
    Alan Dionizio Carneiro
  • 5 de jun. de 2017
  • 6 min de leitura

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”. (Rm 5,5b)

At 1,

13.Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago.

14.Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele.


O Cenáculo era um local de convivência, de refeição. Lá os discípulos se reuniam num quarto isolado. Não estavam em ambientes públicos desde a morte de Jesus.

Contudo, ainda permaneciam perseverantes na oração. Fracos ou desanimados, mas não derrotados ou desesperados.

Lucas destaca a presença de Maria entre os discípulos de Jesus. Ela acompanha a Igreja nessa nova missão de anunciar a Cristo. Ela não abandonou o projeto de seu Filho, abraçou-o completamente. Ela se destaca como a discípula perfeita, que desde o início da sua jornada dedicou-se a servir ao Senhor.

Todos eles perseveravam na oração. Eis o caminho pelo qual nos vem o Espírito Santo: a oração. Pedi e recebereis. Este é também o convite certo: pedir para que o Espírito Santo seja derramado em nossa vida e que faça dela uma oração.

At 2,

1.Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.

A Festa judaica de Pentecostes era conhecida como a Festa das 7 Semanas ou da Colheita (Tb 2,1; Nm 28, 26ss; Ex 23,16; Dt 16,9). Mas no tempo de Jesus a festa comemorava também o dia em que o Povo recebeu junto com Moisés, a tábua dos 10 Mandamentos. O dia da Antiga Aliança (Cf. Ex 19, 6-20).

Era uma festa de peregrinação. Se Jerusalém já era uma cidade comercial, nessa época, era o centro de viajantes, comerciantes, devotos e peregrinos.

Em Pentecostes, A Lei escrita na pedra agora é gravada no Coração (Cf. Jr 31,33). É a Lei do Espírito.

2.De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.

O Sinal vem do céu, de onde Deus habita. Esse vento impetuoso que lembra o fenômeno da nuvem no Antigo Testamento que quando pairava sobre o Templo, era a certeza de que Deus estava no templo. Sua presença era tão imponente que os fiéis não conseguiam entrar no templo ocupado por Deus (Ex 40, 34s).

O fenômeno não é possível ser descrito claramente. Há um esforço para traduzir o indefinível, dar precisão a como Deus se manifesta.

3.Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles.

O sinal é único (línguas de fogo) para todos (Afinal, um só é o Senhor). Mas para todos eles alcança individualmente.

4.Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

A ação de Deus não se dá mais sobre um lugar, é sobre as pessoas. Elas ficam cheias. Elas são tocadas. Elas são transformadas por Deus. É maravilhoso pensar nessa força pela qual todos são tomados sem serem destruídos, diminuídos. Não é uma possessão de uma divindade.


Nesse momento, um sinal aparece sob os que foram repletos do espírito: “Falar em línguas”.

OBS.: Não se deve confundir esta manifestação do Espírito com o chamado “Dom de línguas” enaltecido pelos movimentos de Renovação Carismática e Igrejas Pentecostais atualmente. A similaridade está apenas na força do Espírito Santo que irrompe nos corações e transborda em seu Amor.

A explicação se dá nos versículos seguintes.


5.Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu.

O escritor sagrado enfatiza mais uma vez a referência ao lugar do acontecimento. Nesse sentido, Pentecostes não se dá numa unidade geográfica apenas, mas universal. A pluralidade de povos representa a totalidade do mundo.

Pentecostes é sobre o mundo e não sobre algumas pessoas.


6.Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua.

7.Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: Não são, porventura, galileus todos estes que falam?

8.Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?

9.Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia,

10.a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos,

11.judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus!

Sobre o fenômeno ‘falar em línguas’ (At 2,4) que aconteceu em Pentecostes, Sto. Tomás de Aquino explica que era possível que os discípulos falassem uma única língua a qual todos os povos pudessem compreender, mas isto não facilitaria a comunicação, ou seja, como saber se as pessoas entenderam a mensagem do evangelho.

Por isso, nosso santo doutor explica que, em Pentecostes, um milagre maior na comunicação acontecia: os discípulos falavam a língua de todos aqueles povos (aparentemente) em seu único discurso, o que os permitiam entender também o que as pessoas diziam como ocorre antes do discurso de Pedro (At 2, 15), esclarecendo a denúncia feita pelos ouvintes de que eles estariam embriagados.

É desta forma que em Sto. Tomás se traduz o texto latino de 1Cor 14,18: “Dou graças ao meu Deus porque falo as línguas que todos vós falais.”*.

O dom de línguas acompanha, então, os primeiros cristãos. Significa para Sto. Tomás de Aquino que os apóstolos, após Pentecostes possuíam a ciência de todas as línguas, ou seja, possuíam a capacidade de falar vários idiomas estrangeiros para poderem se comunicar e anunciar Cristo e o Reino de Deus às pessoas.

Questionado por que não se via mais pessoas manifestando o dom de línguas concedido pelo Espírito Santo desta forma, Sto. Tomás, tal qual, Sto. Agostinho, explica que a Igreja já possui a capacidade de falar a língua de todos os povos – recorde-se que nossa igreja é católica, isto quer dizer, universal –, e que para receber o Espírito Santo é preciso fazer parte do corpo de Cristo que é a Igreja. Veja-se um exemplo prático: todo dia, na unidade da igreja católica, medita-se o mesmo evangelho de Cristo em qualquer parte do mundo seja no Brasil, em Roma, na Angola ou na Austrália.


Podemos, também, entender como Fr. Raniero Cantalamessa que “aquilo que o Espírito Santo toca, o Espírito Santo muda”. Logo, depois de Pentecostes, a Igreja mudou, pois ela pôde alcançar o coração de todos os povos, inclusive o seu, pela força do Amor de Deus. E estando transformada, o sinal visível do milagre em Pentecostes confiado à Igreja, não precisa mais acontecer de forma extraordinária. Por quê?


Porque, na Igreja, já sabemos que o amor nos une. Porque já percebemos, pela igreja, que o amor é comunicação e possibilita-nos entender a nós e ao outro. Porque na igreja sabemos que o amor é a maior forma de evangelização. Sendo assim, nestas breves lições do doutor angélico percebe-se: a) dom de línguas é um mistério; b) dom de línguas é graça dada em virtude de nossa pequenez humana; c) dom de línguas é princípio de (para) evangelização; d) dom de línguas é para utilidade da igreja; e) dom de línguas é sinal do maior dom do Espírito Santo, Amor de Deus, que é a UNIDADE, princípio de salvação.


No trecho bíblico, a linguagem universal indica que todas as barreiras entre os homens e em favor da evangelização são quebradas, destruídas. Pentecostes resgata a unidade sem destruir o outro, sem destruir a diversidade. Pentecostes destrói a inimizade e não o inimigo (o outro).

Geralmente queremos que na vida a nossa vontade sempre prevaleça e anule a vontade do outro. Daí a divergência e a guerra. Para que haja unidade na diversidade é preciso submeter-se a uma vontade maior, a do Espírito Santo.


Não é possível deixar de fazer o comentário ao Texto da Torre de Babel (Gn 11,1-9). Nele, a língua é caminho de divisão. Lá, os homens desejavam subir até o céu para dizer que eram tão grandes quanto Deus e de que não precisam de Deus. Igual soberba de Adão. Em Pentecostes, é Deus que vem ao encontro do homem para elevá-lo.


Referências:

AQUINO, Felipe. Descerá sobre vós o Espírito Santo. São Paulo: Cleofas, 2015.

AQUINO, Sto. Tomás de. O Credo. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

BECK, E. Eu creio: pequeno catecismo católico. São Paulo: Verbo divino, 1999.

BENTO XVI, Papa. Introdução ao cristianismo. São Paulo: Loyola, 2014.

CANTALAMESSA, Raniero. Espírito Santo: Princípio de vida nova. São Paulo: Canção Nova, 2013.

CANTALAMESSA, R. O canto do espírito: meditações sobre o Veni Creator. Petrópolis: Vozes, 1998.

CANTALAMESSA, R. O mistério de Pentecostes. São Paulo: Santuário, 2001.

LADARIA, Luis F. O Deus vivo e verdadeiro: o Mistério da Trindade. São Paulo: Loyola, 2005.

MÜLLER, G. L. Dogmática católica: teoria e prática da teologia. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

SCIADINI, Patricio. Cem (sem) conselhos para rezar bem. São Paulo: Loyola, 2012.

VATICANO. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2010.

VATICANO. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Papa Bento XVI. São Paulo: Loyola, 2005.

YOUCAT: Catecismo jovem da Igreja Católica. São Paulo: Paulus, 2011.


Comments


Catequista leigo católico

© 2016 por Alan Dionizio. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook Clean Grey
  • Twitter Clean Grey
  • LinkedIn Clean Grey
bottom of page