Pentecostes – A perseverança dos cristãos
- Alan Dionizio (Catequista leigo católico)
- 29 de jun. de 2017
- 7 min de leitura
Pentecostes – A perseverança dos Cristãos
At 2, 42.Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações.

Perseverar. Eis o verbo que inicia o testemunho dos primeiros cristãos. Perseverar significa que Pentecostes, seus sinais, seus frutos, a companhia do Espírito Santo não se resumiu a um momento apenas, ele continuou.
Perseverar também significa que se iniciou para aqueles cristãos um processo de renovação e de caminhada, na qual havia desafios que iam desde a incompreensão até a perseguição. Fato é que eles se tornaram, por força do Espírito Santo, “nova pessoa”. Aqueles que se converteram, a graça da unidade e da fé permanecia com eles. Passaram a viver uma vida nova no Espírito.
“Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.” (Jo 3,5)
O caminho do Espírito muito além de um passe de mágica, é uma jornada de relacionamento. Entenda (Ef 4, 22-32):
“Nós nascemos ‘homens velhos’ e devemos tornar-nos ‘homens novos’.” (Fr. Raniero Cantalamessa)
A convivência com Espírito Santo exige aprendizado e maturidade. Por isso o escritor sagrado ensina os caminhos da perseverança:
1. Perseverar "na doutrina dos apóstolos". A expressão vai além de uma recomendação a escuta da Palavra de Deus e pede que escutem a experiência dos apóstolos com a Palavra de Deus, assim como Cristo disse: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” Mt 11,29.

Com isto se evita que ninguém se arrogue dono do Espírito e passe a ensinar o que convém, nem se ache suficientemente douto para transmitir sua experiência pessoal, esquecendo-se de meditá-la primeiro em seu coração, pois conviver pede humildade e intimidade para que Deus cresça e, muitas vezes, é preciso tempo para amadurecer no discernimento do Espírito (Cf. Hb 5). Os apóstolos não estão acima da Palavra, mas a serviço dela para que não tropecemos na caminhada. Não é possível esquecer que foram os apóstolos que esclareceram o que acontecia em Pentecostes.
De igual modo, “perseverar na doutrina” significa guardar no coração, na memória e sempre recordar a centralidade da fé que começa a ser divulgada com os apóstolos, ou seja, o Evangelho, a verdade de Jesus Cristo.

2. Perseverar na "reunião comum”. O tema da unidade será a marca definitiva da ação do Espírito Santo em Pentecostes. A ‘reunião em comum’, aqui como um costume introduzido pelos apóstolos, é um apelo para que a experiência do Espírito não seja vivida no isolamento, na solidão do próprio Eu.
Recorde-se que o Dom Espírito Santo vem quando todos, sem perceber, estavam “reunidos num mesmo lugar” (At 2,1). O Espírito Santo que é perfeita comunhão promove o diálogo e a aproximação constante entre as pessoas. Ele nos ensina a conviver e, assim, vai nos ensinando a amar o próximo.
3. Perseverar na “Fração do pão”. Ao se colocar na reunião comum, a comunidade se esforça para partilhar suas experiências que teve com Deus e com outro.
A ‘fração do pão’ era a partilha do alimento, sim e muito mais. Também era a recordação de uma tradição: os judeus tinham o hábito desde a saída do Egito, de relembrar a páscoa da libertação realizando a fração do pão. E este gesto, durante a páscoa judaica, era iniciado pelo pai que reunindo a sua família preparava os pães azemos (com ervas amargas e sem fermento) e fazia a seguinte pergunta a seus filhos: "- O que esta noite tem de diferente de todas as outras?." Então o pai passava a contar toda a história de libertação do Egito e seu sentido.
Podemos crer que a ‘fração do pão’ as quais as primeiras comunidades cristãs realizavam, eram como a caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24). No relato, Jesus recorda aos discípulos a história da salvação desde a Antiga Aliança até a Cruz e lhes ensina o sentido das sagradas escrituras. E, somente após esta memória, Ele parte o pão com os discípulos e é por eles reconhecido como o Senhor ressuscitado. Na fração do pão, Jesus partilha da sua própria vida de maneira real.

Não é à toa que a Igreja sempre entendeu com base na tradição dos apóstolos e em escritos antigos como o Didaqué, que a ‘fração do pão’ é gérmen do rito do sacramento da missa como a conhecemos hoje.
A fração do pão, sinal de comunhão com Deus, deve ser acompanhado de amadurecimento e de intimidade. Por isso, a fração do pão precisa estar plena de sentido, ou seja, repleta de oração.
4. Perseverar "na oração". Ainda são todos crianças na vida do Espírito, precisam reconhecer no mundo os sinais do Espírito. A comunidade aprende através da oração a estar unida a Deus e a discernir sua vida e os sinais do tempo, isto é, como Deus os vai acompanhando na história.
O Espírito Santo é aquele que guia a Igreja para um pleno conhecimento das implicações da Revelação (sobre Deus e seu agir na história).
É o Espírito que nos leva ao conhecimento e ao contato mais íntimo e profundo com a realidade de Deus, dá-nos acesso à própria vida de Cristo. O Espírito é o princípio da nossa experiência e da nossa comunhão com Deus, ajudando a compreender e discernir os desígnios de Deus (Cf.: 1Jo 2,20.27; 4,1-6; Jo 14,25s).
A experiência da oração é o fundamento da comunidade e a certeza da autenticidade do testemunho de vida. Como saber, então, se estamos falando junto com o Espírito Santo ao anunciar o Evangelho? Para este caminho, três critérios são essenciais: 1º. Estar em Oração (Lc 11,13; At 1,14); 2º. Obediência: estar submetido à vontade de Deus (At 5,32); 3º. Amor àqueles para os quais se é enviado a anunciar o Evangelho (Jo 3,16; 1Jo 4,11). Não se pode dar Jesus senão pelo amor.
“A Linguagem do cristão é a linguagem da Doçura e do Respeito.” (Papa Francisco).
Na dúvida ainda quanto ao discernimento, Cristo nos ensinou como reconhecer os caminhos do Espírito Santo: “conhecereis a árvore por seus frutos” (Mt 12,33). E quais são os frutos do Espírito Santo? (Cf.: Gl 5, 13-26).

O Espírito Santo é por tudo isso, o nosso mestre interior. Ele guia a nossa consciência, orienta e capacita a nossa vontade para Deus (Jo 11, 28b; Rm 12,1s). Ele não apenas orienta nossa consciência no que deve ser feito, também nos dá a capacidade de fazer aquilo que ordena.
O Espírito Santo nos ensina a adorar, nos ajuda a rezar. Por que você reza? Na sua oração você passa mais tempo falando ou escutando?
Adorar a Deus em Espírito e Verdade significa estar em Deus. Se Deus é amor e o amor está enraizado no nosso coração, somos elevados até junto de Deus. O Espírito Santo vem em nossa fraqueza, intercede por nós (Rm 8,26), nos eleva até Deus. Então, contemplamos a Deus face-a-face, olhamos para Ele, mostramos nossa pequenez, que nada temos que seja nosso, não ousamos pedir nada para nós mesmos, colocamo-nos à disposição de Deus.
Exemplo: Certa vez, perguntaram a Pe. Pio de Pietrelcina o que ele fazia nas inúmeras horas de adoração ao Santíssimo Sacramento. “Ele dizia: Nada. Eu olho para Ele e Ele olha para mim. Eu olho para Ele e Ele olha para mim”.

Pode parecer pouco, mas já percebeu como nosso amor é doido? Vivemos tão preocupados com tudo na vida, passar no vestibular, terminar a faculdade, pagar contas, namorar, trabalhar, aguentar ou brigar com alguém, cobrar algo de alguém, comprar pão, hora para isto, hora para aquilo. Pedimos a Deus que nos dê força, pedimos a Deus que nos ajude, pedimos a Deus que Ele resolva as coisas, pedimos a Deus explicações porque as coisas acontecem na nossa vida. Some o tempo que você pede e compare com o tempo que você agradece a Deus por tudo na sua vida e veja como estão as coisas. Deus tem de fazer tantas coisas para ser digno de nosso amor, para merecer que nós o amemos. Podemos concluir que a frase de Pe. Pio é a mais simples e profunda verdade para se adorar a Deus e poder se encher, fartar-se com sua beleza.
“Muitas pessoas fazem Deus de surdo e mudo: falam e gritam muito nas orações. Nosso Deus é amor e no amor não se grita, se fala baixinho e muitas vezes se sente necessidade de ficar apenas em silêncio para escutar ou olhar-se com ternura. Em nossas orações devemos aprender a reconhecer a voz do Espírito através das palavras de Jesus que nos chama. O orante parte sempre da certeza de que Deus sabe o que mais lhe convém e de que sabe que seus pedidos serão sempre atendidos.” (Fr. Patrício Sciadini, p.119).
Sto. Agostinho dizia: “Tenho medo de que Deus passe perto de mim e eu não ouça sua voz.”.
Pela oração devemos aprender a escutar a voz do Espírito Santo, o que Deus nos quer falar e nos tornamos dóceis ao agir de Deus. Fazemos um diálogo constante com Deus. É, por isso, que o Espírito Santo é chamado de “Doce hóspede da alma” (Rm 8,26).

É só no Espírito que percebemos que temos, junto a Deus, a liberdade de filhos. Recorde-se do filho mais velho na parábola do Pai Misericordioso: “Meu filho, tudo que é meu, é teu.” (Lc 15,31). Se tudo está entregue a Deus, não precisa pedir constantemente aquilo que nos falta ou que desejamos. Confie e usufrua dos bens e da bondade de Deus. Graças ao Espírito Santo, doado por Jesus, podemos chamar Deus de Pai (Abbá-Pai) (Cf. Gl 4,6s). Abbá-Pai é uma expressão de intimidade, pessoal e carinhosa, equivalente ao Paizinho, Painho.
Perseverar na oração é sempre pedir o Espírito Santo antes de tomar nossas decisões, deixar-se interpelar pelo Espírito Santo, permiti-lo participar da nossa vida. Dunga, da Comunidade Canção Nova, diz que pela manhã costuma fazer este convite: “Bom dia, Espírito Santo! O que vamos fazer hoje?”. Essa é uma boa oração! Que tal fazermos igual a partir de agora?
Pela perseverança da oração, aprendemos a seguir a Deus não por uma ordem, mas por amor.

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